Intolerância à lactose afeta hábitos alimentares

Níveis de produção de lactase influenciam no tratamento

Por Débora de Brito e Natália Araújo 

A intolerância à lactose, também conhecida como Hipolactasia, é um distúrbio que afeta aproximadamente 2 milhões de pessoas somente no Brasil. Geralmente o diagnóstico da doença é feito pela própria pessoa em alguma fase da vida, seja na infância ou enquanto adulto, já que ela pode ocorrer em vários graus de impacto no organismo. Enquanto algumas pessoas desenvolvem levemente os sintomas, outras o sentem de forma severa, como é o caso de Júlia Fonte.

Desde criança, Júlia sentia os sintomas da intolerância à lactose em alto nível e era diagnosticada erroneamente com viroses. Por desconfiança que a origem fosse a gordura do leite, a mãe da jovem passou a administrar a bebida com baixo nível de gordura, mas não adiantou. Anos mais tarde eles descobriram a causa do problema. “Fui em um gastroenterologista que pediu o exame de sangue para diagnosticar a intolerância, que deu positivo, porém depois de mais ou menos um ou dois anos mudei de médico pela falta de orientação e esclarecimento sobre o assunto, e refiz o exame com outra médica; sendo que nessa segunda vez, o exame foi muito mais desconfortável pois a minha produção de lactase já tinha diminuído muito nesse intervalo. Hoje mudei mais uma vez de médico especialista e minha produção e lactase está cada vez menor”, conta Júlia.

O que ocorre no organismo de Júlia é a deficiência na produção da enzima nomeada lactase, que digere o açúcar presente no leite e derivados, o composto acumula e fermenta no intestino pelas bactérias da região e, por isso, os desconfortos abdominais e os outros sintomas gastrointestinais afetam o indivíduo. O que determina o “grau” dos sintomas é o nível de produção da lactase.

Um bebê, por exemplo, se alimenta exclusivamente de leite e seu organismo necessita de uma grande produção da enzima para a digestão correta. É natural que conforme avance na idade o organismo diminua automaticamente essa produção, o que gera a intolerância à lactose quando a produção de lactase cai drasticamente. Outras duas causas, menos comuns, também são responsáveis pelo distúrbio: a) predisposição genética e b) a presença de micro-organismos que atacam as células intestinais responsáveis pela produção da lactase.

Júlia conta como o diagnóstico afetou sua alimentação: “no início não senti tanto as mudanças porque ainda produzia certa quantidade de lactase que me permitia consumir os alimentos com certa tranquilidade, menos produtos líquidos, esses me deixavam muito mal. Contudo, como sentia muitas dores e sabia que não deveria continuar fazendo isso com meu corpo, decidi ir cortando os alimentos aos poucos e comecei a consumir mais comprimidos de lactase.”, mas ela conta que, apesar da ingestão dos comprimidos, o processo de redução dos alimentos foi lento demais, o que resultou em uma maior produção de lactase pelo organismo, o que a fazia sofrer com os sintomas. “Esse processo de cortar os alimentos foi bem complicado no começo, porque eu estava acostumada a eles e meu paladar sentia muito a falta, mas aí comecei a acelerar o processo”, Júlia reduziu os alimentos e os comprimidos, mas conta que sempre gostou e consumiu, em grande quantidade, alimentos baseados em lactose, o que dificultou a adaptação “meu objetivo é ficar cada vez mais independente da lactose e consumir apenas em determinadas situações”, conclui.

Sarah Hirota, por outro lado, nunca teve um diagnóstico médico. Ela diz que foi “empírico” durante a adolescência e que, devido aos sintomas moderados não precisou de tratamento específico e uso de medicação, a medida que tomou foi em relação ao leite, que nunca consumiu em quantidade e acabou tirando do cardápio. 

O caso de Marcello, um garoto de 8 anos, é um pouco semelhante ao da maioria e até ser diagnosticado houve inúmeras dúvidas se era apenas uma alergia ou realmente uma intolerância à lactose. Aos 3 anos e meio, ele já havia sido diagnosticado pela pediatra – que acompanha-o até hoje – depois de três tentativas sem sucesso, sendo a única que conseguiu sanar os problemas de alergia, bronquite e diarréia. A diarréia e o catarro nas vias aéreas eram sinais da intolerância, fazendo com que piorasse a bronquite.

O pai de Marcello conta que cortou o leite comum, trocando por leite de soja, além de todos os derivados de leite. No começo foi difícil ajustar a alimentação quando o menino ia à casa de colegas, lanchonetes, escola, mas aos poucos os pais pararam de cortar tudo e foram liberando algumas coisas. Nos últimos dois anos, as alergias e a intolerância foram melhorando, e o convívio com o problema foi se tornando algo natural, tendo alguns períodos de tempo sem lactose, depois podendo até comer chocolate, tomar sorvete, sem apresentar contrariedade. Hoje, Marcelo consegue ter uma alimentação normal, não tendo problema nenhum em lidar com a intolerância devido ao seu diagnóstico desde cedo.

Não existe cura para a intolerância, mas dentre todos os casos, ficou nítido que a busca por um auxílio médico é essencial, pois a hipolactasia é uma carência do organismo que pode, e deve, ser diagnosticada o quanto antes por um gastroenterologista, tendo também o suporte juntamente de um nutricionista, orientando uma dieta e alimentos que farão reduzir os sintomas e propiciarão uma adequada qualidade de vida ao paciente.

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