Trabalho home office: adaptação do mercado de trabalho ao ambiente digital

Entenda o porquê de empresas e startups adotarem esse modelo para a pandemia

Por Gabriela Abreu

O decreto da quarentena, editado em março de 2020, trouxe diversos caminhos para a jornada de trabalho. O que antes conhecíamos como o tradicional ambiente de trabalho (escritórios, prédios e salas) precisou se adaptar ao isolamento social para evitar a contaminação de pessoas com o COVID-19.

Em uma entrevista para o jornal ‘O Globo’, o mentor de negócios online e empreendedor Gerry Cramer comenta que “Alguns de nós irão ver essa pandemia como uma parede de tijolos que interrompe nosso progresso, enquanto outros a verão como uma oportunidade e um novo caminho. Mas, como essa situação pode levar a uma realidade melhorada em cada uma de nossas vidas?”

STARTUPS NA PANDEMIA

Startups como Nubank, 99 e Loggi, antes da quarentena, já possuíam áreas que trabalham home office, por não necessitar que os funcionários estivessem presencialmente na empresa para realizar suas funções. Em meio a pandemia, muitas outras empresas decidiram aderir a longo prazo ao formato de trabalhar em casa.

Fernanda Pires, recrutadora de tecnologia da Loggi, comenta que “no começo [da pandemia], os colaboradores estranharam um pouco mas nas últimas pesquisas que foram feitas, tivemos mais gente falando que produziu bem do que gente falando que produziu menos”. Além disso, ela comenta que a empresa disponibilizou um voucher para que os funcionários pudessem arcar com os custos do home office além de um auxílio financeiro para custos de internet.

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A Loggi é uma startup que trabalha com entregas. A sua missão é um dia substituir os correios. Foto: Reprodução/Facebook/Loggi.

A vantagem do formato home office é justamente o baixo custo para a empresa, já que não é preciso muito para trabalhar no seu próprio ambiente e a flexibilidade. Muitos trabalhadores migraram para a parte rural, sejam sítios ou chácaras, na tentativa de fugir do vírus. Essa nova configuração possibilitou que muitas pessoas mantivessem seus empregos mesmo que em novos ambientes de moradia. 

Em conversa com Daniel Rezende, Analista de Pessoas e Cultura da QuintoAndar, ele comenta a empresa já declarou home office até o fim deste ano e que assim como a Loggi, ofereceram um auxílio para que os funcionários pudessem adaptar seus ambientes de trabalho. Um ponto interessante da QuintoAndar foi que a empresa prezou também pela saúde mental de seus funcionários. Daniel comenta que a comunicação sobre os planos de saúde aumentaram e que “a gente começou a trabalhar com uma empresa terceira que ajuda mais nessa parte de saúde mental que às vezes o plano não auxilia tanto”.

E O DESEMPREGO?

No último trimestre, a taxa de desemprego no Brasil subiu para 12,9%, atingindo 12,7 milhões de pessoas e o Ministério da Economia mostra que a economia brasileira perdeu 1,1 milhão de vagas de trabalho com carteira assinada. Analisando esses dados é possível observar que se o mercado de trabalho não se adaptar ao novo formato pós-pandemia, a economia brasileira será colocada em risco.

Foto: G1/Globo

De acordo com Salim Mattar, secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, a taxa de desemprego no país deve dobrar por conta dos impactos da crise do coronavírus. Por mais que tenhamos esperança em relação a pandemia, as empresas e organizações que forem capazes de se adaptar ao ambiente online, serão aquelas com maior chance de crescimento no futuro.

O FUTURO DO MERCADO DE TRABALHO

A Loggi é um ótimo exemplo de empresa que foi capaz de se adaptar ao ambiente online. Desde o início da pandemia, eles não precisaram realizar corte de funcionários. Na verdade, a startup cresceu nesse contexto. Fernanda Pires também comentou na entrevista por ser uma empresa de entrega, a necessidade por trabalhadores temporários aumentou nesse período.

Levando em consideração o depoimento de Salim Mattar, é importante ressaltar que as áreas de recursos humanos também precisarão se adaptar para novas contratações. Durante a entrevista com Daniel Rezende, ele comenta que “as relações humanas vão se tornar muito mais empáticas, por termos que entender melhor a realidade do outro”. Ele também acredita que os líderes terão que aprender mais sobre se comunicar e alinhar expectativas.

Nessa perspectiva, vale ressaltar as organizações estudantis que têm feito um bom trabalho em se adaptar ao ambiente digital e desenvolver profissionais preparados para lidar com gestão de crise. A AIESEC, organização voltada para o desenvolvimento de liderança jovem através de intercâmbios, possui mais de 1.000 membros trabalhando de forma voluntária. José Arthur Botelho, Diretor Nacional de Gestão de Pessoas, explicou que não foi difícil para a AIESEC entender como se adaptar ao home office pois já possuíam nacionalmente times que trabalhavam de forma remota.

 

AIESEC é uma organização mundial presente em mais de 120 países. Só no Brasil, são 1.825 colaboradores. Foto: Flickr/AIESEC

Em relação ao suporte dado as colaboradores nesse período, o mais interessante foi a criação de um guia sobre como gerenciar times online, desde adaptação de cada ponto de encontro até garantir uma boa performance no meio digital. Além disso, a organização possui 49 escritórios espalhados por todo o Brasil e cada um deles possui um responsável por gerir as equipes. Cada responsável foi treinado para garantir a retenção da membresia durante esse período.

A Diretoria Nacional da AIESEC se preocupou muito com a experiência que cada membro teria dentro da organização. José comentou que eles analisaram três frentes: comunicação interna, acompanhamento e análise da evasão semanal dos membros. “A gente começou a trabalhar muito forte com comunicação interna em termos de ressignificando o trabalho e entendendo exatamente o que nós como voluntários poderíamos contribuir para o propósito da organização no meio online”, relatou José. Além disso, foi realizado no mês de maio uma conferência online com mais de 1.000 participantes, de todo o Brasil. Durante 3 dias, o grande objetivo era garantir que a membresia se conectasse com a cultura da AIESEC e que desejassem permanecer trabalhando por ela. 

Cada vez mais, precisamos considerar um futuro do mercado de trabalho onde muitas profissões atuarão totalmente online. Os trabalhadores e empresas que melhor souberem se adaptar a essa nova realidade terão vantagem nas próximas etapas do mercado.

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