Depressão nas matérias jornalísticas digitais: por que não falamos sobre?

Por Laura de Almeida Gallinari

Não é difícil encontrar matérias que falem sobre ansiedade ou suicídio. Todavia, é complicado achar informações sobre um estado de saúde que, muitas vezes, fica entre esses dois quadros: a depressão. Falar de ansiedade tornou-se algo rotineiro nos últimos anos e pautas com suicídio rendem audiência; mas então, por que não se fala sobre depressão no jornalismo brasileiro? E quando o assunto é tratado, por que é escrito de forma tão equivocada? Seja com erros técnicos em relação à doença ou apenas pela falta de sensibilidade e empatia com o leitor. 

O jornalista que se deixa levar pela racionalidade extrema, seguindo apenas a missão de “passar a informação”, pode despertar sensações e emoções pesadíssimas em alguém que tenha um quadro depressivo. Se essa pessoa entra em contato com uma matéria com vários gatilhos, não é possível prever como esse conteúdo poderá afetá-la. 

Os estigmas sociais em torno da depressão apenas reforçam esse comportamento amador da mídia ao tratar de saúde mental. Então, por onde deve começar a mudança? Na sociedade ou na mídia? Pois um influencia o outro e se atualizam entre si próprios em conjunto. Entretanto, por exercer o poder sob a visibilidade de temas à população, a mídia tem o papel principal ao tratar do tema. 

É necessário que se encontre uma maneira de falar sobre depressão, de uma forma que não cause gatilho em quem tenha a doença, mas que também informe às pessoas que não foram diagnosticadas com esse quadro. Para isso, deveria haver uma maior abordagem da psicologia em cursos de jornalismo, para que os alunos exercessem o senso crítico e aprendessem mais questões pontuais ligadas ao assunto (principalmente aquilo que é ou não um gatilho). Outra ideia seria levar pautas assim para dentro do ambiente de trabalho do jornalista, tendo em vista que o assunto é de grande relevância social e caminha lado a lado com conceitos aplicados na ética jornalística. 

Deixar o foco em conteúdos produzidos online é um diferencial ao analisar todo o contexto jornalístico em torno deste tema. Matérias com equívocos podem estar associadas a blogs, vídeos ou redes sociais que tratem exatamente sobre a depressão; a consequência é que esse tipo de produção atinge o público interessado no assunto, que muitas vezes são pessoas diagnosticadas com a doença. Desta forma, a explanação de conteúdo falso, com a grande chance de haver gatilhos, torna-se maior. Os tais gatilhos aparecem quando o jornalista não se atenta ao o que escreve, pois não tem conhecimento profundo do tema.

Sendo assim, ainda há diversas questões em aberto sobre falar de depressão no jornalismo: existe alguém culpado por fazer matérias equivocadas? Quem? Qual o intuito de ganhar “clicks” tratando de uma doença que causa sofrimento a tantas pessoas? Segundo a OMS, a depressão já é considerada a principal causa de invalidez na população internacional. 

O jornalismo brasileiro está quilômetros atrasados na caminhada do desenvolvimento da comunicação, pois não é visto nenhum preparo, com consciência social, para falar do tema, assim como não há abertura às consequências que podem acontecer quando não falamos sobre a depressão na mídia.

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